7ª Semana Eixo Ciências Tecnologia e Inovação - Civilização e cultura

10/06/2020 17:46

Avanço da tecnologia em aldeia muda cotidiano de índios no Amapá

Notebooks, celulares e televisões são aparelhos comuns em tribo indígena. Aldeia Kumenê é uma das mais isoladas, no extremo Norte do país.

Índia grava com um celular o pai assando alimento para o almoço (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Índia grava com um celular o pai assando alimento para o almoço (Foto: Abinoan Santiago/G1)

A vida dos índios da aldeia Kumenê, que fica na reserva Uaçá, em Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, passa por constante transformação. Apesar de isolados em meio a selva no extremo Norte do país, os indígenas da etnia Palikur sofrem cada vez mais a influência da cultura que vem de fora, segundo o próprio cacique Azarias Ioio Iaparrá, de 50 anos. Um dos costumes adquiridos foi a utilização da tecnologia no dia a dia da comunidade, a exemplo do uso da TV para assistir novelas. O G1 passou três dias na aldeia e acompanhou de perto a influência da tecnologia na tribo.

A aldeia Kumenê é uma das mais isoladas do Amapá. Para chegar até a comunidade, partindo da sede do município de Oiapoque, é necessário navegar ao menos 20 horas por três rios, o Oiapoque, Uaçá e Urukauá. Mas o tempo do percurso ainda pode ser maior, dependendo da influência da maré. Em alguns pontos alagados o nível da água impossibilita o fluxo de embarcações.

Para chegar na aldeia Kumenê, em Oiapoque, é necessário viajar mais de 20 horas via fluvial (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Para chegar na aldeia Kumenê, em Oiapoque, é necessário viajar mais de 20 horas via fluvial (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Apesar da distância, a aldeia é equipada tecnologicamente. A tribo possui um gerador de energia que funciona todos os dias das 19h às 23h. Durante o dia, algumas casas são abastecidas com a energia captada por placas solares.

VEJA FOTOS DA ALDEIA KUMENÊ

O avanço tecnológico nas aldeias possibilitou algumas mudanças de hábitos, segundo avaliação do cacique Azarias Ioio Iaparrá. Eletrônicos antes considerados novidades para os índios, atualmente são ítens comuns no dia a dia da tribo.

Andando pelas pequenas vias da aldeia Kumenê é possível perceber índios que trocaram as redes de dormir pelas redes virtuais, e o arco e flecha pelos mouses e computadores.

Os aparelhos mais comuns, de acordo com o cacique, são os celulares, notebooks e televisões. Os eletrônicos são adquiridos pelos índios mesmo sem sinal de telefonia móvel, internet e energia 24 horas.

Uma das indígenas que utiliza a tecnologia é a jovem Ingrid Iaparrá, de 23 anos. Ela tem um celular comprado em Caiena, na Guiana Francesa, e mesmo sem fazer ligações diz que mexer no aparelho é uma das atividades que mais gosta de fazer na aldeia para registrar o cotidiano dos familiares e amigos.

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“Eu ganhei o aparelho do meu pai. Gosto de filmar o que a gente vive na aldeia, como a caça e a pesca”, contou a índia enquanto gravava um vídeo do pai assando uma caça para o almoço.

O indígena Jafre Ioio, de 34 anos, também tem um celular. Ele usa o aparelho para se distrair na aldeia escutando músicas evangélicas na língua materna da tribo, o dialeto palikur. 

“Sou evangélico e uso o celular para escutar minhas músicas. É só para isso porque aqui não temos sinal de celular”, contou o índio.

Outro instrumento tecnológico usado para diversão na aldeia é videogame. Mais caro que alguns celulares e televisores, poucos índios têm o aparelho em casa. Quem tem, divide o jogo com demais amigos indígenas, como é o caso de Vinícius Guiome, de 16 anos.

“Aqui, quem perde passa a vez. Tenho cinco jogos no meu videogame. O que mais usamos são os de luta porque é mais fácil para dividir o uso”, relatou o jovem, dono de um videogame portátil.

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A tecnologia também é usada em Kumenê para facilitar algumas atividades. Miranda Santos, de 23 anos, é indígena e professor na escola da aldeia, em Oiapoque. Ao invés do quadro e pincel, ele diz que utiliza o computador para exibir figuras que ajudam na alfabetização das crianças da tribo.

Apesar de ter um notebook, Miranda Santos lamenta a falta da internet na comunidade, que na visão dele, poderia ajudar ainda mais no ensinamento dentro da sala de aula e nas pesquisas que precisa fazer para lecionar aos alunos.

 

índio Miranda Santos diz que aldeia precisa ter internet (Foto: Abinoan Santiago/G1)

índio Miranda Santos diz que aldeia precisa ter internet (Foto: Abinoan Santiago/G1)

O cacique Azarias Iaparrá acredita que em breve a internet banda larga será implantada na aldeia Kumenê, que foi comtemplada com a instalação do serviço. A tecnologia vai ser cedida pelo governo do Amapá como uma das compensações estabelecidas pelo cabeamento de fibra óptica da Guiana Francesa até Macapá, que em alguns trechos passa por aldeias indígenas.

Apesar de alguns índios terem a tecnologia como distração, Iaparrá ressalta que outros jovens indígenas ainda preservam a cultura com a tradição da caça, pesca e brincadeiras. “A tecnologia é boa, mas não podemos perder nossos traços”, concluiu.

 

 

Apesar do avanço tecnológico, algumas brincadeiras ainda são preservadas (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Apesar do avanço tecnológico, algumas brincadeiras ainda são preservadas (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Kumenê
A aldeia Kumenê está localizada na reserva Uaçá, em Oiapoque, extremos Norte do país. Ela é composta por dez vilas às margens do rio Urukauá, que somam 1.963 índios, segundo o cacique Azarias Iapará.

Nas cabeceiras dos rios Oiapoque e Uaçá, a vegetação é de terra firme, mas seguindo em direção à foz do rio Urukauá, a vegetação muda, sendo tomada por campos alagados, com algumas montanhas que permitem a ocupação humana.

A tribo faz parte da etnia Palikur que também possui descendentes na Guiana Francesa. Na comunidade brasileira, a língua materna é uma das únicas culturas preservadas. Os índios ainda utilizam o dialeto local para se comunicar entre si.

Além do dialeto palikur, muitos falam ou compreendem o patuá, idioma usado por índios das etnias Karipuna e Galibi-Marworno.

Em Kumenê, os índios são atendidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai) com um posto de saúde, e por uma escola estadual com aulas de até o ensino médio.

 

Fonte: https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/05/avanco-da-tecnologia-em-aldeia-muda-cotidiano-de-indios-no-amapa.html    Acessado dia 08 de junho 2020

Atividade sobre Avanço da tecnologia em aldeia muda cotidiano de índios no Amapá

 

1-Ler o texto e mencionar as inovações tecnológicas na aldeia.