14ª Semana Eixo Educação e direitos humanos - Ensino enquanto direito e seus desafios

13/08/2020 06:05

Os desafios para garantir a Educação de Jovens e Adultos

Como as políticas públicas e os gestores escolares podem combater a diminuição de matrículas e os elevados índices de abandono observados na EJA

Maria Clara Di Pierro Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)

Uma modalidade em busca de identidade


As normas vigentes admitem uma diversidade de formas de organização da EJA, compreendendo cursos presenciais, semipresenciais ou à distância, com avaliação no processo de ensino e aprendizagem ou em exames públicos de certificação de competências. De acordo com o artigo 23 da LDB, os cursos de EJA podem ser organizados em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, módulos, grupos não seriados, em regime de alternância etc..
Em algumas regiões metropolitanas, existem centros especialmente destinados aos jovens e adultos que adotam formas de organização do ensino flexíveis e inovadoras (Haddad et al, 2007), porém a oferta pública de EJA quase sempre é realizada em período noturno e nas mesmas escolas - e com os mesmos professores - que atendem em período diurno crianças e adolescentes. Como a maioria das licenciaturas não prepara para atuar com jovens e adultos, os professores tendem a reproduzir nessas turmas os métodos e conteúdos curriculares do ensino das crianças, até que o acúmulo de experiência e o trabalho coletivo lhes permita construir novos saberes da docência (Pereira e Fonseca, 2001; Ribeiro, 1999). A rotatividade dos professores, que na maior parte dos casos apenas completa suas jornadas de trabalho na EJA, entretanto, torna os esforços de formação em serviço pouco efetivos. O coordenador desempenha um papel estratégico para o enfrentamento desse quadro, pois cabe a ele promover a formação continuada da equipe e incentivar o estudo, as práticas de registro, a análise crítica e o intercâmbio de experiências.
Quando procuramos pela identidade pedagógica dos cursos de EJA, na maior parte dos casos, nos deparamos com algo muito assemelhado ao antigo Ensino Supletivo: cursos acelerados voltados à reposição dos mesmos conteúdos escolares veiculados no ensino infanto juvenil. O currículo tende a ser pouco significativo e desconectado das necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos. Além do risco de infantilização dos estudantes, essa abordagem compensatória ignora a riqueza de saberes das pessoas jovens e adultas, tendendo a vê-las como indivíduos aos quais faltam conhecimentos.
A questão que se coloca, então, é como tornar o ensino básico para os jovens e adultos mais relevante e atrativo, de modo a reverter a baixa procura, os elevados índices de abandono e o desprestígio da modalidade.


 

Pistas para uma EJA mais relevante


Compromisso, entusiasmo e competência são ingredientes necessários às equipes pedagógicas em qualquer modalidade do ensino, mas o impacto de sua atuação depende em grande medida das condições em que realizam o trabalho educativo. Instalações físicas e financiamento adequados, valorização dos profissionais e assistência aos estudantes com alimentação, transporte e material são pré-requisitos para uma EJA mais relevante. Apesar de óbvias, essas condições merecem atenção, tendo em vista a precariedade de alguns serviços educativos.
Registros de escolas inovadoras apontam que a superação dos impasses já mencionados passa pela experimentação de formas de organização mais flexíveis e de qualidade, que rompam com o paradigma compensatório que inspirou o Ensino Supletivo, articuladas com outras políticas sociais e de desenvolvimento.
Experiências desse tipo podem ser encontradas nos movimentos por Educação e cultura popular que, inspirados no pensamento de Paulo Freire (1921-1997), marcaram a história brasileira na segunda metade do século 20, e também em práticas contemporâneas conduzidas por governos, movimentos, universidades e organizações sociais (Di Pierro et al, 2008; Haddad et al, 2007; Luiz, 2013; Melo et al, 2011; Soares, 2011).
A primeira característica comum a essas iniciativas é o reconhecimento, o acolhimento e a valorização da diversidade dos educandos da EJA, pois antes de serem alunos, esses jovens e adultos são portadores de identidades de classe, gênero, raça e geração. Suas trajetórias de vida são marcadas pela região de origem, pela vivência rural ou urbana, pela migração, pelo trabalho, pela família, pela religião e, em alguns casos, pela condição de portadores de necessidades especiais.
Uma das consequências do reconhecimento da diversidade dos educandos é a admissão da heterogeneidade de suas necessidades de aprendizagem, motivações e condições de estudo, o que implica a estruturação de formas de atendimento diversificadas e flexíveis, capazes de acolher diferentes percursos e ritmos formativos. A flexibilidade na organização dos tempos e espaços de ensino e aprendizagem parece ser a chave para caracterizar as propostas pedagógicas inovadoras na EJA, ao lado da criteriosa seleção de conteúdos curriculares conectados ao universo sociocultural dos estudantes, com apoio de recursos didáticos em linguagem apropriada para essa faixa etária.
Uma virada dessa ordem só pode ser realizada por e com educadores bem formados, que tenham acumulado experiências e conhecimentos sobre a cultura e a aprendizagem das pessoas jovens e adultas das camadas populares, o que requer a superação do voluntarismo reinante e o reconhecimento da natureza especializada do trabalho docente com jovens e adultos.

 

Fonte:

https://gestaoescolar.org.br/conteudo/114/os-desafios-para-garantir-a-educacao-de-jovens-e-adultos. Acessado dia 11 de agosto de 2020

 

Atividade sobre o desafio para garantir a educação de jovens e adultos

 

1 Ler o texto e fazer um resumo das principais ideias do autor.